"Tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus
16:18). Com essa frase nós, cristãos
católicos, cremos que Cristo constituiu Pedro para conduzir sua Igreja logo
após sua ascensão aos céus. Após a Ressurreição, outro gesto de Cristo
distinguiu Pedro entre os demais apóstolos: “E, depois de terem jantado, disse
Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele
respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus
cordeiros” (João, 21:15).
O
termo “apascentar”, usado por Cristo Ressuscitado significa “cuidar”,
“instruir”, “nutrir” ou “guiar”. Desde então, esse é o papel dos papas à frente
da Igreja, cujo número – incluindo o Papa Francisco – alcançou 266 escolhidos
para governar a Igreja até hoje.
Sempre
a eleição de um Papa chamou a atenção da humanidade. Na atualidade, repórteres,
cinegrafistas, TVs, rádios e revistas dedicam parte de suas reportagens ao
Vaticano que, muito embora seja o menor país do mundo, conduz a fé de 1,4
bilhões de católicos romanos espalhados pelo planeta.
Na
atualidade, uma das questões mais discutidas é quanto ao perfil do novo papa: se
será conservador, liberal, progressista ou reformista.
Por
ser conduzida por homens e estar inserida na humanidade, a Igreja não tem como
fugir a tais especulações. A Igreja, contemplada pela ótica humana, também está
sujeita a considerações dessa natureza.
Lembremos,
todavia, que, como ensina os evangelhos, o Novo Testamento e o Catecismo católico, a Igreja, assim como
Cristo – seu instituidor – possui duas naturezas: a humana e a divina. A
humana, representada pelos fiéis e seus sacerdotes; e a divina, alicerçada na
assistência direta e pessoal do Espírito Santo, o Consolador, enviado por
Cristo logo após sua subida aos céus. Seu papel na Igreja foi sinalizado pelo
próprio Cristo: "quando vier o Paráclito, ele vos ensinará
tudo" (João 14:26).
É
preciso, portanto, que nós, católicos, seguidores do Ressuscitado, tenhamos a
lucidez necessária de não nos deixarmos influenciar pelo que o mundo diz,
ensina, orienta ou sinaliza. Conforme ponderou o próprio Jesus, “estamos no
mundo, mas não somos do mundo” (João 17:14). Paulo, em sua Carta aos Romanos
pede para que não nos conformássemos com este mundo (Romanos 12:2). Em outra passagem, na Carta aos Coríntios, o
mesmo apóstolo afirma que “Deus escolheu o que para o mundo é loucura para
envergonhar os sábios e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar
o que é forte” (1º Coríntios 1:27).
Além
dessas passagens existem inúmeras outras que também afirmam categoricamente a
separação entre Deus e o mundo. Na verdade, são duas dimensões completamente
opostas, incapazes de se misturarem, assim como a água não se mistura com o
óleo.
Desde
a morte do Papa Francisco tenho ouvido muitos apelos no sentido de pedirem a
“modernização da Igreja”. Que o novo sucessor de Pedro prossiga os avanços
conquistados pelo Papa Francisco.
Não
é bem por aí.
Quando
ouço comentários dessa natureza, logo me vem à mente o que aconteceu a João
Batista, decapitado pelo Rei Herodes por denunciar a situação de adultério
vivida entre ele e Herodiade, sua mulher, porém, casada com o irmão do Rei. A
decapitação de João Batista, a pedido de Herodiade reflete muitíssimo bem a
postura que os verdadeiros cristãos têm que adotar em relação aos valores deste
mundo: o de enfrentamento.
A
História da Igreja é próspera em nos mostrar milhões de cristãos que ofereceram
suas próprias vidas em troca da defesa da ordem e da moral cristã. Que não se
curvaram aos poderes deste mundo e denunciarem suas mazelas. Que não se
deixaram levar por ideologias dominantes em várias passagens da vida cristã.
Que nunca trocaram os valores divinos pelos valores deste mundo.
No
meu ponto de vista, em sede da moral divina, não há que se falar em papas
conservadores, liberais, progressistas ou reformistas. Isto porque tais
conceitos são conceitos puramente humanos e como tais devem ser tratados e
apartados da comunidade cristã católica. Tais definições cabem perfeitamente na
comunidade e no convívio humano, mas nada tem a ver com a comunidade cristã,
pois “há um só Senhor e uma única fé” (Efésios 4:5).
As
leis de Deus são imutáveis. O sentido de suas normas é eterno, principalmente
quando relacionado a questões de fé e moral cristã. Portanto, não há como
aplicarmos conceitos puramente humanos - como “progressistas” e “reformistas” –
ao transcurso da Igreja por este mundo. A Igreja está no mundo, mas com ele não
se confunde.
Em
Mateus 24:35 Cristo foi categórico ao afirmar que “os céus e a terra passarão,
mas as minhas palavras jamais passarão”. Trata-se, aqui, de uma das mais
explícitas e cristalinas afirmações do Salvador quanto à eternidade de sua
doutrina e ensinamento. Eles são ATEMPORAIS. Não cabem, portanto, nos redutos
deste mundo. São por demais elevados, para se agasalharem sob o manto das
vicissitudes humanas.
Quando
vejo, p. exemplo, discursos inflamados dentro da Igreja defendendo com
veemência a questão climática que assola o planeta, a fome no mundo, o
desemprego e muitos outros problemas sociais, fico perplexo com tais discursos.
Não por permanecer insensível a eles,
mas por perceber que muitos destes conteúdos seculares acabaram tomando o lugar
daquilo que deveria permanecer como o centro de nossas atenções: a salvação
eterna oferecida por Cristo.
Tais
discursos de índole puramente secular têm e devem ter os seus próprios foros e
redutos de discussão. A COP 30, a ser
realizada em Belém neste ano, é um desses redutos. Quanto a isso não há dúvida.
No entanto, quando algumas coisas saem do seu devido lugar, escapando de sua
ordem natural, é preciso que imediatamente elas devam ser ajustadas,
reconduzindo-as ao seu curso original. O
espaço reservado a Cristo deve ser intocável. Não podemos tratar o acessório
com os mesmos protocolos que dispensamos ao principal.
Com
efeito, é preciso que o novo sucessor de Pedro declare em alto e bom tom que a
salvação da alma deve ser o principal objetivo perseguido por cada cristão e
pela própria Igreja. Que Jesus está vivo na Eucaristia, em corpo, em alma e em divindade.
Que os sacramentos - especialmente a confissão e a comunhão – carimbam nosso
passaporte para a eternidade. Que a vida no adultério conduz à morte eterna.
Que o inferno existe, assim como o purgatório e o paraíso. Que a água benta tem
que fazer parte diária de nossas práticas cristãs católicas, pois, nossa luta
não é contra a carne e nem contra o sangue, mas contra os principados e as
potestades deste mundo tenebroso (Efésios 6:12). Que após a morte as almas
enfrentam o Tribunal do próprio Deus e, mais importante, que, passados pouco
mais de dois mil anos, nada disso mudou, assim como nada vai mudar na doutrina
e nos ensinamentos da Igreja até a segunda vinda do Ressuscitado, conforme
assinado, atestado e testemunhado por mensageiros celestiais: “Por que buscais
entre os mortos aquele que está vivo?” (Lucas 24: 5-6); “De repente, surgiram
diante deles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Galileus,
por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi
elevado aos céus, voltará da mesma forma como o viram subir" (Atos dos
Apóstolos 1: 10-11).
Esse
é, a meu ver, o discurso que deve ser proclamado pelo novo sucessor de Pedro.
Boa parte dele, aliás, já empoeirado e esquecido em algum cantinho de nosso
interior.
Alipio
Reis Firmo Filho
Conselheiro
Substituto – TCE/AM
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