terça-feira, 6 de maio de 2025

O NOVO SUCESSOR DE PEDRO

 

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus 16:18).  Com essa frase nós, cristãos católicos, cremos que Cristo constituiu Pedro para conduzir sua Igreja logo após sua ascensão aos céus. Após a Ressurreição, outro gesto de Cristo distinguiu Pedro entre os demais apóstolos: “E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros” (João, 21:15).

O termo “apascentar”, usado por Cristo Ressuscitado significa “cuidar”, “instruir”, “nutrir” ou “guiar”. Desde então, esse é o papel dos papas à frente da Igreja, cujo número – incluindo o Papa Francisco – alcançou 266 escolhidos para governar a Igreja até hoje.

Sempre a eleição de um Papa chamou a atenção da humanidade. Na atualidade, repórteres, cinegrafistas, TVs, rádios e revistas dedicam parte de suas reportagens ao Vaticano que, muito embora seja o menor país do mundo, conduz a fé de 1,4 bilhões de católicos romanos espalhados pelo planeta.

Na atualidade, uma das questões mais discutidas é quanto ao perfil do novo papa: se será conservador, liberal, progressista ou reformista.

Por ser conduzida por homens e estar inserida na humanidade, a Igreja não tem como fugir a tais especulações. A Igreja, contemplada pela ótica humana, também está sujeita a considerações dessa natureza.

Lembremos, todavia, que, como ensina os evangelhos, o Novo Testamento e o  Catecismo católico, a Igreja, assim como Cristo – seu instituidor – possui duas naturezas: a humana e a divina. A humana, representada pelos fiéis e seus sacerdotes; e a divina, alicerçada na assistência direta e pessoal do Espírito Santo, o Consolador, enviado por Cristo logo após sua subida aos céus. Seu papel na Igreja foi sinalizado pelo próprio Cristo: "quando vier o Paráclito, ele vos ensinará tudo" (João 14:26).

É preciso, portanto, que nós, católicos, seguidores do Ressuscitado, tenhamos a lucidez necessária de não nos deixarmos influenciar pelo que o mundo diz, ensina, orienta ou sinaliza. Conforme ponderou o próprio Jesus, “estamos no mundo, mas não somos do mundo” (João 17:14). Paulo, em sua Carta aos Romanos pede para que não nos conformássemos com este mundo (Romanos 12:2).  Em outra passagem, na Carta aos Coríntios, o mesmo apóstolo afirma que “Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte” (1º Coríntios 1:27).

Além dessas passagens existem inúmeras outras que também afirmam categoricamente a separação entre Deus e o mundo. Na verdade, são duas dimensões completamente opostas, incapazes de se misturarem, assim como a água não se mistura com o óleo. 

Desde a morte do Papa Francisco tenho ouvido muitos apelos no sentido de pedirem a “modernização da Igreja”. Que o novo sucessor de Pedro prossiga os avanços conquistados pelo Papa Francisco.

Não é bem por aí.

Quando ouço comentários dessa natureza, logo me vem à mente o que aconteceu a João Batista, decapitado pelo Rei Herodes por denunciar a situação de adultério vivida entre ele e Herodiade, sua mulher, porém, casada com o irmão do Rei. A decapitação de João Batista, a pedido de Herodiade reflete muitíssimo bem a postura que os verdadeiros cristãos têm que adotar em relação aos valores deste mundo: o de enfrentamento.

A História da Igreja é próspera em nos mostrar milhões de cristãos que ofereceram suas próprias vidas em troca da defesa da ordem e da moral cristã. Que não se curvaram aos poderes deste mundo e denunciarem suas mazelas. Que não se deixaram levar por ideologias dominantes em várias passagens da vida cristã. Que nunca trocaram os valores divinos pelos valores deste mundo.     

No meu ponto de vista, em sede da moral divina, não há que se falar em papas conservadores, liberais, progressistas ou reformistas. Isto porque tais conceitos são conceitos puramente humanos e como tais devem ser tratados e apartados da comunidade cristã católica. Tais definições cabem perfeitamente na comunidade e no convívio humano, mas nada tem a ver com a comunidade cristã, pois “há um só Senhor e uma única fé” (Efésios 4:5).

As leis de Deus são imutáveis. O sentido de suas normas é eterno, principalmente quando relacionado a questões de fé e moral cristã. Portanto, não há como aplicarmos conceitos puramente humanos - como “progressistas” e “reformistas” – ao transcurso da Igreja por este mundo. A Igreja está no mundo, mas com ele não se confunde.

Em Mateus 24:35 Cristo foi categórico ao afirmar que “os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão”. Trata-se, aqui, de uma das mais explícitas e cristalinas afirmações do Salvador quanto à eternidade de sua doutrina e ensinamento. Eles são ATEMPORAIS. Não cabem, portanto, nos redutos deste mundo. São por demais elevados, para se agasalharem sob o manto das vicissitudes humanas.

Quando vejo, p. exemplo, discursos inflamados dentro da Igreja defendendo com veemência a questão climática que assola o planeta, a fome no mundo, o desemprego e muitos outros problemas sociais, fico perplexo com tais discursos. Não por permanecer  insensível a eles, mas por perceber que muitos destes conteúdos seculares acabaram tomando o lugar daquilo que deveria permanecer como o centro de nossas atenções: a salvação eterna oferecida por Cristo.

Tais discursos de índole puramente secular têm e devem ter os seus próprios foros e redutos  de discussão. A COP 30, a ser realizada em Belém neste ano, é um desses redutos. Quanto a isso não há dúvida. No entanto, quando algumas coisas saem do seu devido lugar, escapando de sua ordem natural, é preciso que imediatamente elas devam ser ajustadas, reconduzindo-as ao seu curso original.  O espaço reservado a Cristo deve ser intocável. Não podemos tratar o acessório com os mesmos protocolos que dispensamos ao principal. 

Com efeito, é preciso que o novo sucessor de Pedro declare em alto e bom tom que a salvação da alma deve ser o principal objetivo perseguido por cada cristão e pela própria Igreja. Que Jesus está vivo na Eucaristia, em corpo, em alma e em divindade. Que os sacramentos - especialmente a confissão e a comunhão – carimbam nosso passaporte para a eternidade. Que a vida no adultério conduz à morte eterna. Que o inferno existe, assim como o purgatório e o paraíso. Que a água benta tem que fazer parte diária de nossas práticas cristãs católicas, pois, nossa luta não é contra a carne e nem contra o sangue, mas contra os principados e as potestades deste mundo tenebroso (Efésios 6:12). Que após a morte as almas enfrentam o Tribunal do próprio Deus e, mais importante, que, passados pouco mais de dois mil anos, nada disso mudou, assim como nada vai mudar na doutrina e nos ensinamentos da Igreja até a segunda vinda do Ressuscitado, conforme assinado, atestado e testemunhado por mensageiros celestiais: “Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?” (Lucas 24: 5-6); “De repente, surgiram diante deles dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado aos céus, voltará da mesma forma como o viram subir" (Atos dos Apóstolos 1: 10-11).

Esse é, a meu ver, o discurso que deve ser proclamado pelo novo sucessor de Pedro. Boa parte dele, aliás, já empoeirado e esquecido em algum cantinho de nosso interior.

 

Alipio Reis Firmo Filho

Conselheiro Substituto – TCE/AM  

 

 

  

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