No último dia 20 de janeiro
Donald Trump tomou posse pela segunda vez como presidente dos Estados Unidos.
Depois de uma vitória esmagadora, Trump não precisou nem de 24 horas para
sacudir o mundo.
Polêmico, incisivo e obstinado,
em 24 horas Trump mostrou mais uma vez sua forte personalidade. Ácida para
alguns. Necessária, urgente e oportuna para muitos.
Eu, particularmente, como já
disse em minhas redes sociais, não comungo de todas as ideias dele. Confesso,
porém, que boa parte delas vai na direção do que desejo para minha cidade, para
meu País e para o mundo onde vivo.
Uma das ações mais contestadas de Trump, e que ecoou mundo a fora
(no Brasil não foi diferente), diz respeito à política imigratória. Na verdade, o
modo de ele ver os imigrantes ilegais não é segredo para ninguém. Todos sabem a
opinião dele sobre quem entra
irregularmente nos EUA.
Devo admitir que concordo com ela,
embora discorde da forma como algumas estão sendo implementadas. Acho que
deveriam continuar sendo firmes, mas menos traumáticas.
Em primeiro lugar é preciso ser
dito que nenhum país do mundo é obrigado a admitir em seu território imigrantes
ilegais. Isso se chama Soberania. Ela consiste no direito de uma nação ou de um governo de se auto conduzir. Trata-se de uma regra elementar no Direito Internacional. Ou
seja, qualquer país do mundo tem o direito de ditar as próprias regras e tomar o rumo que bem
entender. Nas políticas imigratórias não é diferente. Por mais dolorida que
seja, ela é legítima sob o ponto de vista do Direito Internacional. Se houver
excessos, caberá à justiça americana resolver. Não de ofício. Apenas por
provocação.
Evidentemente que na história da
humanidade houve situações em que o exercício da Soberania por alguns países
trouxe sérios desconfortos para a comunidade internacional (inclusive sendo
estopim de guerras e retaliações) fato
que, a meu ver, não se aplica à política imigratória de Trump. Como Chefe de Governo
e de Estado ele tem o direito e, sobretudo, a obrigação de priorizar os seus cidadãos. Aliás, como qualquer outro país do mundo. A regra é universal. Há situações, contudo, que por questões humanitárias muitos
países abrem suas fronteiras para imigrantes ilegais. É o caso da Síria onde
13,5 milhões de pessoas deixaram o país por causa da guerra. Agora, por razões
de prudência, decerto que nenhum país do mundo aceitaria, sozinho, acolher
essas 13,5 milhões de pessoas, mesmo por razões humanitárias. É importante ter
em conta que a entrada de imigrantes em massa em qualquer país do mundo
pressiona os governos a garantirem condições de sobrevivência dessa massa
populacional. É preciso criar postos de trabalho, pagar salários, mobilizar
serviços de transporte, energia elétrica, alimentação, água e produtos de
higiene pessoal. Isso sem falar nas condições de saneamento básico e de moradia.
Ora, se um país não consegue oferecer tais serviços para os seus, abrir suas
fronteiras indiscriminadamente aos demais é apenas transferir o problema de um
lugar para outro. O desejo por melhores condições de vida mudará apenas de endereço.
Na prática, continuará o mesmo. Não é,
portanto, uma equação fácil de fechar. “Quem não pode com o pote, não pega na
rodilha" já dizia minha mãe. É o sábio provérbio popular que se aplica
muito bem a situações como tais. Portanto, em se tratando de questões
imigratórias, a sugestão mais do que prudente é “carregue o peso que possa
suportar”. Trump deu um claro sinal que não conseguirá suportar o peso da responsabilidade pela entrada em massa de imigrantes. Seu compromisso primário, é bom que se diga mais uma vez, é com os seus. Não com terceiros.
Muito tem se falado sobre a “crueldade”
do governo Trump em deportar imigrantes ilegais, incluindo brasileiros. A meu
ver, há muita cortina de fumaça na imprensa nacional e mundial.
Na verdade, muitos presidentes americanos
deportaram imigrantes ilegais. Trump não é o primeiro e também não será o último. Por
oferecerem melhores condições de vida, muitas pessoas ao redor do mundo sonham
em morar nos EUA. O problema é que uma grande parte deles não reúne condições
legais para lá entrar e permanecer. Isso
tudo sem falar que imigrantes ilegais são uma porta aberta ao tráfico de
drogas. Convenhamos, em sã consciência, nenhum país do mundo deveria admitir
situações como essas. Nos EUA não é diferente.
Sobre o número “em massa” de deportados, apesar de todo alvoroço causado por Trump em seu primeiro mandato, não foi ele o presidente que mais deportou imigrantes ilegais na história dos EUA. Até hoje, quem mais deportou foi Barack Obama, do partido Democrata, isto é, o mesmo de Biden. Ao todo, foram 3 milhões de deportações. Trump deportou bem menos: 1 milhão. Quanto ao governo Biden, muito embora ainda não existam dados finalizados, sabe-se que de 2021 a fevereiro de 2024 seu governo deportou 1,5 milhões de imigrantes ilegais, ou seja, 500 mil a mais que Trump e metade das deportações realizadas por Obama. Isso sem computar o restante das deportações em 2024.
Sobre as deportações de
brasileiros, também é preciso que algumas verdades sejam reconduzidas ao seu
devido lugar. O governo Biden deportou mais brasileiros que o de Obama e de
Trump. Ao todo, foram 7.168 deportações contra 6.776 de Trump e 4.189 de Obama.
A respeito disso, não vi nenhuma tempestade na grande imprensa nacional
criticando o governo de Joe Biden. Nenhuma “gritaria”. Nenhum “estardalhaço”. Nenhum
alarde. Muito pelo contrário. Parece que todo mundo comeu abil. Tais números mostram
que o “mi-mi-mi” tem mais barulho do que realidade.
Outro aspecto a ser destacado é
quanto a adoção da meritocracia como parâmetro para “tocar” os negócios
americanos. A meu ver, outra decisão acertada de Trump. Desde jovem cultivo
essa ideia. Aliás, toda a minha trajetória profissional foi pautada pela
meritocracia, apesar de conviver com um orçamento familiar sempre apertado, principalmente
na minha infância e na minha
adolescência. Nunca me deram nada. Sempre conquistei o que tenho com o próprio
esforço.
Penso que, se você é bom, você deve provar que é bom. Se você diz ter condições de estar em primeiro, prove isso. Nada de “dar tapinhas nas costas” e inverter a ordem natural das coisas. Isso só gera uma comunidade de dependentes. Na meritocracia, as regras para realizar tarefas não são flexibilizadas para atender aos seus realizadores. É o contrário. São os postulantes que devem se capacitar para realizá-las. Em outras palavras, na meritocracia não são as regras que devem girar em torno do futuro colaborador, mas é este que deve reunir condições para se adaptar a elas. Admitir o contrário é como encurtar a piscina olímpica para que este ou aquele nadador consiga chegar entre os três primeiros colocados. É aumentar a abertura do garrafão para que o jogador de basquete consiga colocar a bola dentro dele. É rebaixar a rede de vôlei para dar condições a alguns de conseguirem saltar e arremessar a bola à quadra do adversário. É alagar as traves do gol para que o batedor do pênalti tenha mais chance de realizar seu intento. Faz sentido isso para você? Para mim, não faz sentido algum.
É preciso que tenhamos em mente
que em qualquer estrutura há elementos que não podem ser retirados, sob pena de
toda a estrutura vir abaixo e deixar de fazer sentido. Num automóvel o chassi realiza
essa função. No corpo humano, é a coluna vertebral que desempenha esse papel.
Na Engenharia, a sustentabilidade é função das vigas e infraestruturas fincadas
no subsolo. Na Química, os átomos são responsáveis por realizar esse papel. Na Astronomia,
caberá à força gravitacional e à dimensão espaço-tempo realizá-lo. Na Economia,
o sistema econômico representa o fator chave. No Direito a norma jurídica é seu
elemento fundamental. Na Administração, são as organizações que emanam todos os
conceitos e princípios da Ciência. Na linguagem escrita, o alfabeto incorpora
essa característica.
Pois bem. Suprima cada um desses elementos em todas as estruturas observadas e veja o que acontece. Não é difícil imaginar. A mecânica da vida não admite
meios-termos.
Pois é justamente contra essa regra elementar universal que muitos lutam quando jogam a meritocracia no lixo. A meritocracia é fundamental para a realização de qualquer tarefa. Desprezá-la equivale a colocar qualquer um para dirigir um automóvel. No mínimo, haverá dano. Muitos irreparáveis. Em se tratando da Administração Pública, admitir colaboradores sem avaliar suas reais capacidades de prestação do serviço é correr o risco de entregar serviços de péssima qualidade ao cidadão. Não há razoabilidade alguma.
Outro ponto que considero
positivo no governo Trump é a elevação da liberdade de expressão ao seu legítimo
e único lugar. Veja, não estou eu aqui fazendo apologia ao crime ou ao abuso. Em
absoluto. Só estou afirmando que a regra deve ser o direito de se expressar
(como, aliás, o faço nestas linhas) e não a exceção. Pelo que tenho visto, paira
sobre meu País uma nuvem de abuso de autoridade. A regra parece que é cassar a
fala, a livre manifestação do pensamento mediante o uso do medo e da ameaça.
Não. Numa democracia isto é inadmissível. A regra sempre tem que ser a livre
expressão da vontade, conforme está capitulado na Carga Magna em mais de uma
passagem. Agora, os abusos, os excessos, a ofensa à honra e à dignidade, estes
sim, devem ser punidos sempre que se manifestarem. O que vejo, todavia, é que
pessoas que nunca desonraram ninguém, nunca difamaram ninguém estão perdendo o
desejo (e o direito) de falar, de manifestar seu pensamento, justamente por se
sentirem ameaçadas. E o que é pior. Se sentem ameaçadas não por “A” ou por “B”,
mas pela própria estrutura estatal cuja principal função é justamente protegê-las e dar-lhes a sensação de paz, segurança e liberdade.
Veja que paradoxal!!!
Como também já disse em minhas redes sociais,
a punição de quem ofende não pode trazer prejuízos ao restante da comunidade. A pena
deve permanecer restrita à esfera do ofensor.
Nunca deve alcançar os demais componentes da comunidade. Não pode trazer turbulências ao convívio social. Essa regra simples e
básica cristalizada, aliás, num direito fundamental de nossa Carta Magna, tem o condão de impedir que a pena
de um condenado alcance seus sucessores. Hoje em dia, o que vejo, é que os “sucessores”,
isto é, os demais integrantes de um grupo social sofrem com o apenado os encargos da pena que lhe fora imposta, indistintamente. Como se a responsabilidade fosse solidária.
Na verdade, parece haver um claro e indigesto recado para que os demais se
calem, sob pena de virem a sofrer as mesmas consequências. Ou seja, instala-se
o medo e a angústia em toda comunidade. A meu ver, tal prática é inadmissível em legítimos convívios democráticos.
Por outro lado, quem pune tem
sobre seus ombros uma grande responsabilidade. É como um cirurgião que deve retirar
o tumor maligno em seu paciente (a sociedade) sem prejudicar nenhum outro órgão
ou comprometer o funcionamento de veias ou artérias, sob pena de causar amputações
indevidas. Infelizmente, há muitas amputações sendo perpetradas. Vivemos tempos verdadeiramente sombrios.
Nos EUA, Trump deve reverter essa
tendência. Infelizmente já cristalizada em alguns países e em vias de cristalização em outros.
Porém, como não tenho político de
estimação, tenho também algumas críticas a fazer.
Não concordo com a política de Trump quanto às energias renováveis. O mundo agoniza e mais do que nunca precisa de nossa ajuda para continuar nos dando condições de vida. Por isso, quando Trump se move em direção ao petróleo e ao gás, contra o uso, p. exemplo, dos automóveis movidos a energia elétrica, vejo a situação como preocupante. Juntamente com a Índia e com a China, os EUA compõe o grupo de países que mais emitem gás carbônico no Planeta. Dada sua proeminência no mundo, uma iniciativa pró energias renováveis representaria um passo gigantesco em direção ao controle da crise climática mundial. Sua saída do acordo climático de Paris também não é nada bom para a humanidade. Todos nós perdemos.
Há, porém, uma particularidade que acho importante destacar.
Há anos grupos de países debatem as
condições climáticas do Planeta. Existem acordos, cartas, recomendações, discursos e mais
discursos pró meio ambiente. Tudo é muito maravilhoso durante o encontro. O
problema vem depois. Em meio a tantos discursos e reuniões infindáveis parece
que algo está errado. As condições do Planeta só pioram. Parece que os remédios
adotados estão longe de surtir os efeitos desejados. Sou pragmático por
natureza. Infindáveis rodadas de negociações às vezes não levam a lugar algum. Ao
que tudo indica, estamos caminhando há muitos anos, mas não conseguimos sair do
mesmo ponto. A temperatura da Terra está aumentando a cada dia, a cada semana,
a cada mês, a cada ano. E parece que os líderes mundiais não conseguem frear
esse processo. A sensação é que existem muita gente envolvida com a questão
ambiental, mas pouquíssimos efetivamente comprometidos. O resultado desse
estado de coisas está aí à nossa frente. Não sei se Trump, olhando por esse
ângulo, preferiu ficar no seu quadrado. Diante de debates inférteis como estes, de que vale gastar saliva se os próprios países debatedores continuam na sua trajetória de morte?
Outro ponto que, a meu ver,
merece crítica é quanto a saída dos EUA da OMS. Também aqui, a iniciativa de
Trump não foi positiva. Bem ou mal a OMS tenta fazer o seu papel. À época da
pandemia, ela tentou, dentro de seus limites, colaborar com a humanidade. É
como vejo. Infelizmente, muitos líderes políticos – Trump entre eles –
politizaram o período pandêmico. Menosprezaram a força de um vírus letal e da
própria Ciência.
Sua saída agora da Organização
Mundial da Saúde representa uma grande perda. Quiça que haja uma reviravolta
nesse sentido e os EUA voltem a compor a entidade no futuro próximo.
No geral, como disse no início desses meus comentários, acho muito positiva a atitude de Trump. Há excessos, evidentemente, mas confesso que tenho predileção por governantes que tenham atitudes. A atitude deve caminhar lado a lado com o discurso. "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço" deve ser deixado para os ignorantes. Governantes que chamam para si a responsabilidade pela resolução de problemas crônicos de seus súditos devem ser aplaudidos e respeitados. Trump, nesse sentido, está dando um show a meu sentir. Podem criticá-lo pelo nacionalismo exacerbado. Podem criticá-lo por sua petulância, sua prepotência e suas palavras duras e incisivas. De minha parte, eu o aplaudo. É muito melhor alguém que faz o que promete do que aquele que promete e não faz. Alguém que pensa grande. Que pensa realmente na coletividade. Em cuidar de seu povo e de sua gente. Alguém que coloca os valores de seu País acima de seus próprios valores pessoais. Alguém que ama e respeita o cargo que ocupa. Alguém que não permite que seu povo se sinta órfão e abandonado. É como vejo o governante americano.
Sabe, confesso que às vezes sinto
uma ponta de inveja dos americanos.
Alipio Reis Firmo Filho
Conselheiro Substituto – TCE/AM