domingo, 28 de fevereiro de 2021

54 ANOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS: MOTIVO PARA ALEGRIA OU PREOCUPAÇÃO???

 (*) Texto publicado na Coluna Gestão no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com.br)

A Zona Franca de Manaus completa 54 anos. Há exatos 54 anos atrás nascia o modelo com o objetivo de alavancar a economia de uma região situada no coração da Floresta Amazônica. De lá para cá muita coisa mudou. O mundo também. Mas parece que o tempo parou por aqui. Parece que ainda vivemos nos idos de 1970 em que a febre “Zona Franca de Manaus” tomava conta do País.  

Sim. Os ganhos foram incontáveis nesses 54 anos. Disso não resta dúvida nenhuma. A grande questão é: e quanto ao nosso futuro? Estamos realmente preocupados com ele? O que estamos fazendo no presente para termos uma matriz econômica alternativa? Eu respondo: NADA. Eis o nosso grande calcanhar de aquiles.  

A economia global vem sofrendo grandes rupturas. Rupturas que irão mexer (ou já estão mexendo) com a vida de todos nós. Existem novas demandas que estão impulsionando novas formas de fazer negócios nos quatro cantos do planeta. Uma delas é a busca por fontes de energia renováveis. Dentro desse escopo, máquinas com soluções elétricas  despontam em vários países. Os motores elétricos são uma realidade há muito tempo. Mas só num período relativamente recente é que eles entraram na pauta da indústria dos transportes. Aqui, a Índia desponta como um grande mercado.

Em setembro de 2018 o país pretendia que até 2023 15% de sua frota de veículos fosse movida a eletricidade. No ano passado a fabricante indiana Northway Motorsports transformou seu modelo de veículo popular – Maruti 800 – num veículo elétrico. Em 2020 também a Hyundai anunciou a produção do SUV Compacto para a Índia. A promessa é que para 2022 o veículo seja totalmente elétrico. Mas não é apenas o setor de transportes que está sentindo essa demanda. Também o polo de 2 rodas vem sendo visitado cada vez com mais frequência por ela (bicicletas e motocicletas).

Mas talvez a mudança mais significativa e que promete impactar  a indústria eletroeletrônica – entenda-se, Zona Franca de Manaus – refere-se à produção de televisores.

Há vários anos os telefones móveis deixaram de ser apenas ferramentas de comunicação pessoal. Transformaram-se em smarts fones. Por meio da internet das coisas eles conseguem se conectar a vários outros dispositivos (estações de rádio e TV, dentre outros). Pois bem. Os televisores, na forma como atualmente os concebemos, tendem a desaparecer. Migrarão para dentro dos aparelhos celulares. Aliás, isso já é uma realidade em muitos países do mundo. Seu uso em massa, contudo, é apenas uma questão de tempo.

Conforme se vê, não temos muita margem de escolha. A produção em grande escala de motores elétricos em outras partes do mundo;  e  a  demanda cada vez mais frequente por televisores em telefones celulares são dois grandes problemas que ameaçam diretamente duas das mais importantes colunas da Zona Franca de Manaus. Evidentemente que nenhum deles poderá ser resolvido com emendas constitucionais, esticando o prazo de validade do modelo. Também não há como pressionar o Ministro da Fazenda do Brasil mediante discursos inflamados, buscando uma solução. É preciso que tenhamos consciência que  a solução vem de fora do País e, na verdade, não temos controle nenhum sobre ela. Justamente porque a solução depende exclusivamente das leis de mercado, muito mais poderosas e destrutivas (em alguns casos) que as leis jurídicas.

Uma das críticas que se levanta contra o modelo Zona Franca de Manaus é que ele se tornou e está se tornando cada vez mais obsoleto. Além de estar sustentada por soluções que daqui a pouco deixarão de existir, o modelo bem que poderia ser repensado imediatamente, a fim de  incorporar funcionalidades que poderiam lhe dar mais sustentabilidade. Como? Transformando-a numa zona de produção e desenvolvimento de inovações tecnológicas, à maneira da Zona Franca chinesa Shenzhen.

Em 1980 – dois anos após seu nascimento - a Shenzhen transformara-se numa zona de atração de novas tecnologias. A coisa deu tão certo que sua população cresceu de 30 mil habitantes para 12 milhões de pessoas em 2018. Seu PIB em 2018 bateu US$ 491 bilhões de dólares, o quarto maior PIB da China. Seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos representam o dobro da média nacional chinesa. Taí uma ótima alternativa para a nossa Zona Franca.   

As mudanças na economia são como ondas. Elas nascem em algum ponto do planeta e, rapidamente, se propagam em várias direções. Muito semelhante à pandemia no mundo. Dependendo da região onde essas ondas irão “quebrar”, sua força pode ser descomunal, à maneira de uma grande tsunami. Muitas tsunamis estão nascendo ao redor do planeta e ainda não nos damos conta disso. Insistimos em tentar manter a vida de um paciente numa UTI a peso de remédios (jurídicos), enquanto o corpo já não dá mais sinais de sobrevida. Por isso é tão importante a busca por alternativas. Aliás, já se passaram 54 anos e ainda não nos despertamos para isso. Continuamos a viver berço esplêndido.

Precisamos mudar rapidamente. Pensar nosso futuro. Observar as grandes tsunamis que estão se formando ao nosso redor e bater o martelo.

Do contrário, seremos submergidos por todas elas e voltaremos inevitavelmente  a ser  apenas um grande porto de lenha...

 

Alipio Reis Firmo Filho

Conselheiro Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão   

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

MULHERES ELEGANTES

Por mais que se afadiguem, alguns exemplares femininos não conseguem passar sem serem distinguidas pelos olhos do sexo oposto. Numa rua. Numa praia. Numa reunião de negócios. Na fila de um banco. Num restaurante. Numa rede social. Não importa o lugar. Elas sempre chamam e reclamam a nossa atenção.  Não dá para permanecer indiferente diante delas. 

À maneira de pérolas preciosas, esses belos exemplares fascinam de maneira singular. Não precisam fazer muito esforço para isso. Com elas, é tudo muito natural. Respiram e transpiram glamour. Talvez sem mesmo se darem conta disso. Desconhecem o dom que possuem e o poder que desfrutam. 

Não me venha dizer também que todo homem é igual. Não é. Existem homens que sabem apreciar bons conteúdos, especialmente os mais refinados. 

Todo homem de bom gosto sabe distinguir uma mulher elegante. O jeito como fala. A postura no olhar. A maneira de sorrir. A forma como se veste. Os acessórios que costuma trazer consigo. Tudo. Absolutamente tudo, conspira a favor dela. 

O perfume que ela usa é um bom referencial. Fragrâncias  - todos sabemos - é algo extremamente pessoal. Mulheres elegantes sabem escolher o que de melhor combina com elas.  Dependendo da ocasião, conciliam, sem maiores dificuldades, uma pluralidade de aromas.        

Também é quase que desnecessário conhecer pessoalmente esses belos exemplares. 

Mulheres elegantes são como ondas nos oceanos. De longe são rapidamente notadas. Têm brilho próprio. Iluminam qualquer ambiente onde chegam. Encantam com sua magia. Inebriam com seu magnetismo. Nada permanece indiferente diante delas. Sua graça e sua beleza - não me refiro apenas à beleza física - são únicas. Tão únicas que não se confundem com outros traços.   

Conhecer mulheres elegantes é um privilégio. Permanecer a seu lado é um presente. Desfrutar da convivência de alguma delas é uma dádiva. 

Por isso, se qualquer dia desses algum desses belos exemplares cruzarem seu caminho, te dou um conselho: não deixe essa oportunidade passar. Lembre-se: belos exemplares estão ficando cada vez mais raros na atualidade. Algumas são como cometas: navegam por nossa vida uma única vez durante toda a nossa existência.    


Alipio Reis Firmo Filho


  

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O QUE PODE ACELERAR O FIM DA PANDEMIA NO MUNDO?

 

(*) Artigo publicado na Coluna Fato Amazônico do autor (www.fatoamazonico.com.br)


Há pouco mais de 12 meses atrás éramos apresentados a um visitante indigesto: o novo coronavírus. Um personagem que nem mesmo a Ciência o conhecia direito. De lá para cá o mundo virou um campo de guerra. Tornamo-nos prisioneiras de nossas próprias casas. O medo tomou conta de todos. A rotina mudou radicalmente nos quatro cantos do planeta. Viagens, passeios, eventos e agendas foram radicalmente alterados. Na prática, deixamos de ter o controle sobre nossas próprias vidas. Quem passou a ditar as regras foi o tal visitante indigesto, poderoso e incomparavelmente letal. Havia quase 100 anos que o mundo não conhecia uma pandemia com tamanha proporção. A última foi entre 1918/1920. A chamada “gripe espanhola” cujo vírus, aliás, é da mesma família do novo coronavírus.

Quando em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde solenemente declarou  que o foco de infecção em Wuhan na China espalhara-se pelo resto do mundo, alcançando uma escala global, as perspectivas eram as mais sombrias possíveis. Naquela oportunidade, 10 em cada 10 pesquisadores, afirmavam que somente a partir da metade do ano de 2021 é que o mundo poderia contar com alguma vacina. Outros apostavam que apenas no final daquele ano é que surgiria uma vacina. Antes disso, nem pensar.  

Foi quando experimentamos a primeira onda da pandemia no mundo. Um primeiro surto que matou milhares de pessoas e deixou os sistemas de saúde de muitos países no mundo colapsados, como se fossem atingidos por uma tsunami. Era o cartão de visita do inimigo invisível. Aliás, o primeiro deles, pois oito meses depois, experimentaríamos outro, muito mais agressivo que o primeiro.  

Para o bem da humanidade, porém, as previsões não se concretizaram. Ao final de novembro de 2020 o mundo já poderia contar com, pelo menos, quatro vacinas promissoras: Oxford/AstraZeneca, Pfizer, Moderna/BioNtec e Coronavac. Era a luz no final do túnel que todos nós aguardávamos ansiosamente.

A coisa evoluiu e, atualmente, contamos com 08 vacinas sendo aplicadas ao redor do planeta. Aqui no Brasil já contamos com duas delas, com perspectivas para a chegada de mais duas no curto prazo: a russa Sputnik e a vacina da Johnson & Johnson.

Apesar das fortíssimas aliadas, não devemos nos esquecer que, assim como os contágios dos vírus, o efeito de uma vacina também ocorre em ondas. Ela nasce num ponto qualquer do planeta e de lá se propaga em direções diversas, espalhando-se como uma grande nuvem do bem. A velocidade de propagação, porém, depende de fatores como logísticas de transporte e capacidade de guarda e conservação do produto. Entretanto, também de dinheiro e capacidade de produção. Este último – produção em grande escala - talvez, o maior deles.

Além disso, temos que considerar ainda que a vacinação de uma pessoa não produz anticorpos instantaneamente em seu organismo. Após aplicadas, elas exigem tempo para agir. Nas vacinas aplicadas em duas doses – como a de Oxford/AstraZeneca e a Coronavac – a produção de anticorpos no organismo começa a ocorrer 07 dias depois. A partir daí a produção aumenta gradativamente e só atinge o seu pico (próximo de100%) no décimo quarto dia após a segunda dose.  Esse fator joga também contra a imunização da população mundial. Além disso, temos um número gigantesco de pessoas a serem vacinadas.

Façamos as contas.

Somos próximos de 8 bilhões de almas no mundo. Parte das vacinas exige a aplicação de duas doses para se obter uma eficácia próxima de 100%. Por aí já precisaríamos de 16 bilhões de doses, isto é, o dobro da população mundial.

No mundo, o principal produtor de vacinas é uma gigante indiana que atende pelo nome de Instituto Serum. Atualmente, sua produção está a todo vapor. Porém, o instituto tem um grande desafio pela frente. Só na Índia, o desafio é produzir vacinas para 1,353 bilhão de pessoas. Uma tarefa nada fácil. Quanto mais suprir a necessidade de duas centenas de países!

Pois bem. Muito embora as vacinas ajudem muito, elas precisam de tempo para se propagarem pelo mundo, em razão dos fatores que comentei anteriormente. Para ser totalmente vacinado, muito provavelmente o mundo careça de dois anos ou mais o que prolongaria a pandemia no mundo. O problema é que não podemos aguardar por tão longo tempo.

O controle da pandemia no mundo passa pela seguinte equação.

A população mundial pode ser dividida em dois grandes grupos. No primeiro deles está a parcela da população que ainda não foi infectada pelo vírus ou que, embora já infectada, não precisou de maiores cuidados médicos em razão dos sintomas terem sido leves. Na atualidade, essa parcela da população encontra-se recuperada e permanece a espera de ser vacinada. Ela compõe a maior parte da humanidade.

A outra parcela está representada pelas pessoas que se encontram nos hospitais, precisando de tratamentos médicos intensivos. Esse segundo grupo é que pressiona os sistemas públicos e privados de saúde. Aqui mora a limitação das vacinas. Seu calcanhar de aquiles.

É que, apesar de promissoras e eficazes, em relação à população internada as vacinas não poderão ajudar. Elas funcionam como drogas PREVENTIVAS, isto é, que impedem que o vírus cause danos no organismo quando infectado. Por isso, o grupo de populações internadas continuará pressionando as redes de hospitais. Ante à grande demanda, muitos deles carecem de profissionais da saúde e insumos hospitalares. A resultante é que o número de óbitos aumenta significativamente pressionando os serviços funerários.

Por outro lado, enquanto aguardam na fila da vacinação, o outro grupo também pode ser contaminado pelo vírus podendo vir a bater às portas das unidades de saúde, em busca de serviços médicos. O resultado é que essas parcelas adicionais de infectados funcionaram como combustível para estrangular ainda mais os já combalidos sistemas de saúde.

Nesse cenário, qual a solução? Respondo: SOMENTE A DESCOBERTA DE DROGAS CAPAZES DE CURAREM A COVID-19 PODE ABREVIAR NOSSO CALVÁRIO. No atual estágio da pandemia no mundo, e levando-se em consideração que a imunização da população mundial vai demorar, apenas a chegada de medicamentos eficazes para tratarem os doentes é que representará um alívio imediato para as pessoas já acometidas pela Covid-19, reduzindo-se drasticamente a pressão sobre as unidades hospitalares e os profissionais da saúde.  

Ademais, essas drogas teriam a virtude também de tratarem o primeiro grupo; na eventualidade de ele vir também a se contaminar com o vírus e adoecer de Covid-19, enquanto aguarda na fila esperando ser vacinado. Isso evitaria que ele viesse no futuro próximo a também alimentar a fila nos hospitais.

Sobre as perspectivas para a chegada desses novos aliados, em dezembro último a AstraZeneca anunciou o AZD7442 que promete evitar que o infectado pelo novo coronavírus evolua para a Covid-19, se o medicamento for tomado até o 8º dia de infecção. Ele conferiria imunidade instantânea contra a doença. Sua chegada está aguardada para março ou abril do corrente ano.

Outra descoberta promissora está relacionada à comprovação da eficácia de uma droga antiviral que já existe - a tapsigargina – contra o novo coronavírus. Até então, a comunidade científica já se sabia que ela agia eficazmente contra três espécies de vírus: o vírus da gripe comum,  o vírus sincicial respiratório (VSR) e o vírus influenza (H1N1). A descoberta promissora foi feita por pesquisadores do Reino Unido e da China. O medicamento previne a replicação do vírus em células durante pelo menos 48 horas depois de apenas uma dose. O medicamento não age no vírus, mas no sistema imunológico humano.

De se ressaltar que há diferença entre alguém infectado pelo coronavírus e uma outra pessoa acometida da Covid-19. O fato de um organismo está infectado não significa que tenha Covid-19. O AZD7442 impede que o infectado pelo coronavírus evolua para a Covid-19, impedindo-o de sofrer os danos ocasionados por ele em órgãos como pulmões, rins, coração e sistema neurológico.

Outra droga que sinaliza como promissora é a ABX464, conduzida pelo Brasil e pela França, sob a direção da Abivax, uma empresa francesa de biotecnologia. A proposta da droga é reduzir a possibilidade de internação de um paciente com Covid-19, além de abreviar o tempo de recuperação. Além de a Anvisa aprovar os estudos aqui no Brasil, também os órgãos de vigilância sanitária da França, da Alemanha, do Reino Unido e da Itália fizeram o mesmo em seus respectivos países. México, Chile e Peru deverão ser os próximos a aprovarem as pesquisas.

No Brasil os estudos estão sendo coordenados pelo Dr. Jorge Kalil, imunologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP. O ABX464 é uma droga anti-inflamatória, mas que também tem propriedades antivirais. Na verdade, o foco inicial dessa droga era tratar inflamações em doenças autoimunes, mas que ante à pandemia, os estudos clínicos sofreram mudança na trajetória, a fim de investigar sua eficácia contra a Covid-19.

Inicialmente 1.136 pacientes acima de 65 anos de idade foram e estão sendo submetidos aos testes. A droga será aplicada após a constatação da infecção dos voluntários. A previsão é que os testes sejam finalizados no Brasil agora no início de 2021.

Além desses medicamentos existem inúmeros outros sendo pesquisados ao redor do mundo. Se tudo correr bem e os testes se mostrarem realmente eficazes, talvez agora no primeiro semestre de 2021 já possamos contar com mais aliados para tentar frear a pandemia no mundo. Aliados “de peso” e de eficácia instantânea. Não apenas um, mas vários deles, como aconteceu com as vacinas.

A estratégia dos cientistas é trabalhar com drogas antivirais já existentes ou, ainda, com ensaios clínicos que já se mostraram eficazes para outras doenças cujas características guardam estreita relação com a Covid-19.

A ideia é cortar caminho, pois a pesquisa e o desenvolvimento de uma droga genuinamente nova para o tratamento da Covid-19 poderia demandar 5 ou 7 anos. O mundo não pode aguardar tanto tempo.

Portanto, continuemos acreditando na Ciência e nas mentes brilhantes dos pesquisadores. Verdadeiros heróis e salvadores de vidas.

 

Alipio Reis Firmo Filho

Conselheiro Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão