(*) Texto publicado na Coluna Gestão (do autor) no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com)
A Filosofia reserva um de seus compartimentos para se dedicar ao estudo
da Ética. Esta, por sua vez, debruça-se sobre o comportamento humano adjetivado
por elementos como bom/mau, justo/injusto, probo/improbo etc.
O que interessa à Ética é caracterizar condutas humanas aceitáveis
incentivando os membros de um grupo social a praticá-las ante aos benefícios
advindos. A expectativa da Ética é produzir indivíduos socialmente saudáveis,
capazes de respeitar o outro por meio da observação de limites. Saber
diferenciar o que é seu e o que é do outro é a regra básica da Ética.
Nos dias atuais, entretanto, a Ética tem sido motivo de chacota. Não
raras vezes, a referência à conduta ética é associada a zombarias, risos e
deboches. Por isso mesmo, existem
indivíduos que tem forte receio em abordar o tema, justamente pela forma
(negativa) de como será visto pelos que estão ao seu redor.
Por outro lado, paradoxalmente ao que aqui foi dito, as normas éticas têm
comparecido nos discursos. Discursos acadêmicos, discursos judiciais, discursos
políticos e na boca de muitas autoridades.
Fazendo um paralelo entre tais discursos e a conduta desses mesmos oradores
verificamos grandes discrepâncias. Na maior parte deles a Ética comparece
apenas como simples figura de retórica. Restringe-se ao plano das ideias. É
invocada somente nas entrelinhas. Não alcança o mundo real. O dia-a-dia do
cidadão. Suas rotinas e escolhas. Os discursos parecem estéreis. Não produzem
frutos. Enfim, não há comunicabilidade alguma com a prática.
Mas em que consiste exatamente a conduta ética? O que é ser ético?
O filósofo alemão Leibniz (1646-1716) considera que o direito e as leis
decorrem de três preceitos morais básicos: não prejudicar ninguém; atribuir
a cada um o que lhe é devido; viver honestamente.
Outros indivíduos têm seus próprios conceitos de ética. Para uns,
significa cumprir com suas próprias obrigações. Para outros é sinônimo de
respeito a regras.
Conforme se vê, o conceito de conduta ética parece abrigar, algumas
vezes, conteúdos subjetivos, ou seja, cada indivíduo tem seu próprio conceito.
Outras vezes, porém, a definição da conduta ética é muito vaga e ampla, a
exemplo de “viver honestamente”.
Sem entrar no mérito de todas essas considerações, ao longo de minha
caminhada, aprendi a me orientar por uma regra muito simples que, a meu ver, é
capaz de distinguir condutas éticas/não éticas.
Para mim, ser ético é fazer o que é correto MESMO QUE NINGUÉM ESTEJA TE
OBSERVANDO.
Em outras palavras: a Ética não precisa de público para se manifestar.
Ela não depende de holofotes. Manifesta-se no segredo. É no segredo que ela brilha
com mais intensidade. Qualquer conduta que se desgarre dessa condição só aparentemente
será uma conduta ética. Na prática, será tão-somente um arremedo da conduta
verdadeiramente ética. Não mais que isso.
No mundo atual, tornou-se conveniente mostrar-se ético diante de pessoas
e instituições. Repetidas vezes, discursos inflamados reforçam essa conclusão. Fora
das lentes fotográficas e dos microfones a verdadeira personalidade se
manifesta: descumprimento consciente de normas e obrigações.
A verdadeira ética reside no interior de cada pessoa. É ela que move a
conduta pessoal. Não precisa de normas, leis e regulamentos para se manifestar
exteriormente. Ela brota de dentro para fora. Por isso é tão genuína. Por isso
se manifesta em qualquer ocasião. Por isso não depende do mundo exterior.
A verdadeira conduta ética se manifesta no segredo. No oculto. No
silêncio. Na solidão. Quando você desfruta apenas de sua própria
companhia.
Para refletir.
Alipio Reis Firmo Filho
Conselheiro Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão