(*) Texto publicado na Coluna Gestão do autor no FATO AMAZONICO (www.fatoamazonico.com)
A História da Humanidade tem mostrado que não há personagens
cuja conduta tenha 100% de aceitabilidade. Mesmo aqueles que lutaram por valores
sublimes como a vida ou a liberdade de expressão não saíram ilesos de seus
discursos. Foi assim com Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma
Gandhi e tantos outros.
Durante quatro anos Rodrigo Janot esteve no comando da
Procuradoria Geral da República. Um posto cobiçado. Eu diria cobiçadíssimo. Desejado
por muitos, exercido por poucos e abraçado por alguns. De fato. Nem todo mundo está disposto a
flechar bambus. Dá menos trabalho soltar pipas.
No Brasil, lutar contra estruturas apodrecidas tem sido uma constante nos últimos
anos. A bandidagem não dá trégua. Tem
exigido esforço concentrado e dedicação quase que exclusiva. Como diria o
Galileu: “A messe é grande; os operários
nem tanto”. E Janot foi um desses operários. Diga-se de passagem, um grande
operário contra o crime e as organizações criminosas. O problema é que lutar contra
“peixe grande” incomoda. E como incomoda...
Nos fez lembrar as atitudes de um certo Joaquim Barbosa e de uma
Ministra chamada Eliana Calmon que, até antes de assumir a Corregedoria Geral
de Justiça, não era tão conhecida do grande público. Mas bastou abrir a boca e
atirar contra a criminalidade que caiu nas graças da população.
Parece que personagens como as de Janot, Barbosa e Calmon funcionam como
válvulas de panela de pressão. Conseguem dar vazão às angústias acumuladas no peito
do brasileiro. Aquele que trabalha duro para ganhar seu dinheirinho. Que acorda
cedo, que pega o ônibus (ou o metrô) lotado e que ao final do mês recebe uma
ninharia, mas que dá para o sustento.
Dentro de qualquer organização - seja pública, seja as da
iniciativa privada - certamente que um dos grandes desejos de seus executivos é
chegar ao comando da entidade. Por mais
que se tenha percorrido todos os escalões, exercido todas as atividades, se não
alçar à condição de mandatário maior, parece que fica um pouco de frustração. É
como se o trabalho não fosse finalizado. Como se algo permanecesse por fazer.
Há um certo sentimento de incompletude.
Todavia, alguns comandos se distinguem de outros por não se
satisfazem com o puro e simples
exercício do mandato. Exigem mais, muito mais de seus ocupantes. Não basta
sentar na cadeira. É preciso dar vida à função.
O grande ator Lima Duarte disse certa vez que quando ele
interpretava um personagem não era ele que estava lá. Era outra pessoa, menos
ele. Talvez esse tenha sido o segredo de seu sucesso.
Alguns altos comandos funcionam exatamente assim...
Se seus ocupantes não derem vida à função, fica um sentimento
de incompletude, não exatamente para ele, mas para seus súditos.
Assim como Martin
Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi e tantos outros, Rodrigo
Janot também não será uma unanimidade. Sua
passagem pela Procuradoria-Geral da República, porém, sempre será lembrada.
Seja por seus admiradores, seja por aqueles que vivem e sobrevivem do crime.
Vida longa Procurador!!
ALIPIO REIS FIRMO FILHO
Conselheiro
Substituto/TCE-AM
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