segunda-feira, 6 de março de 2017

O QUE FALTA AO BRASIL?

Há um dito popular que diz: “Deus é brasileiro”. Acredito que boa parte dos brasileiros já o tenham ouvido. Eu mesmo o ouvi pela primeira vez já na minha infância. Acho que deveria contar menos de dez anos de idade.

Refletindo melhor sobre seu conteúdo, acredito que, no fundo, ele faz sentido sim. Se pararmos para pensar um pouquinho sobre nossas potencialidades, não há como pensarmos diferente. O Brasil – sem puxar lenha pra nossa sardinha – é um país diferente. E não estou me referindo às diferenças negativas, aquelas que todos os dias estamos acostumados a ouvir no rádio ou ver na televisão. Estou me referindo ao que temos, ao que somos, à tudo aquilo que já trouxemos do berço. Àquilo que ninguém nos deu (é óbvio que, aqui, entra a mão do Criador). Vamos refletir um pouquinho?

Comecemos com nossas reservas minerais. Elas são um bom exemplo disso. Vejamos alguns números somente para servirem de ilustração.

Temos a terceira maior reserva do mundo em potássio, alumínio, bauxita, níquel e estanho. A quinta maior reserva de ferro e manganês sendo que a reserva de ferro é representada por 17 bilhões de toneladas.

Em relação ao petróleo o Brasil responde hoje pela 15ª posição no quadro das reservas mundiais. Todavia, estima-se que com a exploração da camada pré-sal (se convenientemente explorado) saltaríamos para a 6ª posição das reservas no mundo. Muito provavelmente, passaríamos a compor a 
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Não temos problemas no Brasil com catástrofes naturais como tufões, furacões, nevadas, terremotos. O solo brasileiro é todo aproveitável. Acredito que não exista no mundo um país que equipare nossa dimensão continental em termos de potencialidade de produção. As restrições que possuímos são perfeitamente solucionáveis com tecnologia. E acredite: temos essa tecnologia. Há casos de sucesso na produção de frutas típicas do clima temperado no nordeste brasileiro, como a produção de uvas. Os EUA e Israel, além de outros países espalhados pelo mundo, conseguem aproveitar grandes áreas desérticas que de longe apresentam maiores dificuldades de produção, se comparadas com as do semi-árido nordestino. Não sou especialista no tema, mas acredito que o solo nordestino, se bem trabalhado e aproveitado, poderia alimentar não apenas o País, mas o mundo.  

O Brasil tem uma potencialidade turística enorme. Há aqui ambientes e locais para todos os gostos e preferências. Não há pais no mundo que conte com um litoral tão extenso em beleza e em dimensão quanto o nosso. A Amazônia é uma imensa região capaz de, sozinha, alavancar enormes divisas para o País. Isso tudo sem falar no potencial turístico das demais regiões, como o Centro-Oeste brasileiro que guarda uma jóia inestimável: o pantanal mato-grossense. O Nordeste dispensa comentários. Tem tudo e muito mais.

Além de todos esses (e tantos outros) atributos naturais é inegável que o brasileiro é um povo muito talentoso, criativo e extremamente inteligente. Todavia, carregamos conosco uma cultura de nos depreciarmos, de nos colocarmos como um povo inferior aos demais, sem qualidades, que somente gosta de carnaval, samba e futebol. Não sei bem o motivo disso, mas esse enredo é muito parecido com uma criança que não gosta de estudar. Tira notas baixas na escola e vive brincando. O conceito da família em relação a ela é que não terá futuro, não “será gente quando crescer” e por aí vai. “Tá na cara que não dará certo”, diriam alguns.

Poucos sabem, entretanto, que os gostos e as preferências nem sempre traduzem a capacidade intelectual de alguém. Um bom exemplo disso é Albert Einstein, talvez, o cientista mais conhecido do mundo. Na infância, ele tinha sérios problemas de comportamento. Ele não suportava pessoas autoritárias, era temperamental e por força disso tinha péssimas atitudes. Conta-se que aos cinco anos de idade ele jogou uma cadeira em seu tutor – que lhe dava aulas particulares – porque estava de mau humor. Quando estudou na escola de gramática de Luitpold, de onde saiu em 1894 sem um diploma, pois não conseguia conviver com a disciplina autoritária da escola, sua professora lhe disse certa vez: “você não chegará a lugar nenhum”. Não precisa dizer mais nada. A História conta uma versão completamente diferente de Albert Einstein.

E o que demonstraria mais cabalmente a criatividade e a potencialidade do povo brasileiro? Muito simples. Basta passarmos em revista a nossa própria História e distinguirmos notáveis brasileiros. Verdadeiras pérolas que nós, de pé, aplaudimos, talvez, sem nos darmos conta. O esporte é um bom exemplo disso.

No futebol não precisamos falar muito. É, de longe, o maior exportador de talentos do mundo. Foram muitos. Certa vez li um comentário de um jogador boliviano que, segundo ele, no Brasil os jogadores talentosos eram tantos que pareciam “nascer da terra”. A genialidade de um Pelé e de um Garrincha dispensam comentários. E elegância na maneira de jogar de um Falcão (refiro-me ao jogador dos gramados e não das quadras) acabou sendo sua marca quando defendeu o Roma nos idos dos anos oitenta. Poucos no mundo tiveram a capacidade de domínio de bola e a percepção de jogo de um Zico. Isso tudo sem falar em tantos outros talentos mais recentes (Ronaldo, Ronaldinho, Romário, etc.). Mais recentemente, o Neymar. Mas temos inúmeros outros talentos em outras modalidades esportivas: Robert Scheidt, Torben e Lars Grael (vela), Diego Hypólito, Arthur Mariano, Aarthur Zanetti, dentre outros (ginástica), Thiago Braz, Fabiana Murer, Maurren Maggi, dentre tantos outros (atletismo), Aurélio Miguel, Tiago Camilo, dentre outros (Judô), Robson Conceição, Eder Jofre (boxe), Nelson Piquet, Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi (Fórmula 1), Cesar Cielo, Gustavo Borges, Fernando Scherer, dentre outros (natação), Fernando Pessoa (hipismo), Isaquias Queiroz (canoagem), Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni (tênis), Anderson Silva e tantos outros (MMA), vôlei masculino e feminino (que tem um histórico de vitórias no voleibol mundial impressionante), futebol de salão (Falcão, Manoel Tobias, dentre outros); enfim, poderíamos relacionar inúmeras outras modalidades esportivas em que o esporte brasileiro mostrou talento e competência, mas acho desnecessário. 

Agora, um dado importante. Se não bastasse termos gente competente nas mais diversas modalidades esportivas, parece que estamos, em muitas delas, à frente das potências mundiais. Enquanto as medalhas olímpicas são obtidas lá fora em troca de maciços investimentos, nossas medalhas foram fruto de puro talento, disciplina e dedicação pessoal de nossos atletas. Todos sabem que pouco ou quase nada investimos no esporte. Um exemplo disso é o pessoal da ginástica. Não recebem o apoio necessário, mas conseguem apresentar desempenhos fantásticos. O mesmo acontece com o pessoal do atletismo. A dedicação e o empenho pessoal são a mola propulsora de muitos bons resultados. E se investíssemos mais em nossos talentos? Onde chegaríamos? Pois é. Difícil responder, mas diante de todo esse contexto é possível dar asas à imaginação.

O que dizer dos cientistas brasileiros? Pessoas notáveis conhecidas e respeitadas no mundo inteiro. Podemos citar alguns como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Calos Motta, dentre outros (arquitetura e urbanismo),  Ivo Pitanguy (cirurgião plástico), Alex Atala (gastronomia), Alex Kipman, Eduardo Saverin, Hugo Barra, dentre outros (processamento de dados), Carlos Ghosn (executivo do segmento automobilístico), Carlos Saldanha, Fernando Meirelles (cinema), Gisele Bündchen, Daniella Helayel (passarela e estilista), Humberto e Fernando Campana (designer), Marcello Serpa (publicidade), etc...

Isso tudo sem falarmos em ramos da Ciência em que o Brasil é destaque  no cenário internacional como a oftalmologia, o processamento de dados, a medicina e tantos outros importantes ramos da  Ciência. Pouca gente sabe mas o Brasil participou do projeto que mapeou o genoma humano. Nesse projeto participaram países como os EUA, a Alemanha, o Canadá, a Suécia, o Japão, a Dinamarca, isto é, países que estão na ponta do desenvolvimento mundial.

Por fim, não poderíamos deixar de citar a festa de abertura das olimpíadas de 2016, realizada no Brasil. Não há quem tenha assistido à celebração que não tenha se encantado. Fala-se (imprensa internacional inclusa) que muito provavelmente tenha sido a abertura mais bonita da História das olimpíadas. É o talento do povo brasileiro cantado em verso e prosa à maneira tupiniquim que não deixa nada a dever a nenhuma nação do globo.

Então? O que nos falta? Temos tudo. Não nos falta nada. Deus parece ser realmente brasileiro. Quando iremos despertar? Não sabemos. Enquanto uns poucos buscarem seus próprios interesses morreremos de fome diante de uma mesa farta. 

* Publicado na minha coluna GESTÃO (Fato Amazônico). Clique AQUI PARA ACESSAR A COLUNA 


ALIPIO REIS FIRMO FILHO
Conselheiro Substituto – TCE/AM   


  

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