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domingo, 24 de maio de 2020
COVID-19: UM JEJUM DE ESCALA MUNDIAL
SOBRE O ISOLAMENTO/DISTANCIAMENTO SOCIAL
OS RISCOS DE UMA VACINA
ISOLAMENTO SOCIAL COM FRONTEIRAS ABERTAS
(*) Texto publicado na minha Coluna Gestão, no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com)
Muitos
profissionais da saúde espalhados pelo Brasil estão enxugando gelo. Longe de
fazer uma crítica ao maravilhoso trabalho prestado por eles a todas as famílias
brasileiras, a afirmação tem endereço certo. Não se dirige aos hospitais ou às
unidades de saúde, mas àqueles que tem por responsabilidade gerir a saúde
pública no País.
Infelizmente,
passados mais de 60 dias desde quando as taxas de contágio da Covid-19
começaram a acelerar no Território nacional, as portas de infecção continuam
abertas. Pasmem!!
Vamos aos
fatos.
Uma amiga
minha deixou Portugal no dia 07 de maio corrente (quinta-feira) pela manhã,
juntamente com outros 300 brasileiros. Ela veio pelo vôo da TAP, companhia
aérea portuguesa. Só vieram brasileiros nesse vôo.
Próximo da
meia noite de quinta-feira mesmo, aterrissou no aeroporto de Guarulhos em São Paulo.
Após
descer do avião, ela se dirigiu ao saguão do aeroporto para pegar suas malas.
Depois foi à alfândega apresentar o passaporte para as revistas de praxe.
Ao ser
liberada, pegou um táxi e foi para um hotel, pois seu vôo para Manaus seria na
noite do dia seguinte, dia 08 de maio (sexta-feira).
Ou seja,
desde quando pisou em solo brasileiro, ela não recebeu nenhuma abordagem das
autoridades médicas brasileiras. Ninguém questionou nada sobre seu estado de
saúde ou, ao menos, mediu sua temperatura. Absolutamente nada.
Pior: isso
aconteceu com todos os 300 passageiros que chegaram juntamente com ela de Lisboa.
Na
sexta-feira à noite apenas, pouco antes de embarcar para Manaus, é que um filho
de Deus mediu sua temperatura, mas ficou nisso. Nada mais.
Ao chegar
em Manaus, na madrugada do dia 09 de maio (sábado) a mesma coisa aconteceu.
Nenhuma abordagem, nenhuma exigência, nenhum registro. Tudo como dantes no
quartel de abrantes.
Novamente,
após pegar suas malas, tomou um taxi e foi para sua casa. Tranquilamente.
Imaginemos
se ela estivesse contaminada. Entre a descida do avião em Guarulhos e a chegada
a sua casa, em Manaus, teria contaminado “meio mundo”. O pessoal da alfândega,
os taxistas, o pessoal do hotel e tantas outras pessoas mais. Segundo os
protocolos médicos, uma pessoa contaminada pode contaminar até 7 pessoas.
E se
também os outros 300 passageiros estivessem contaminados? Seriam mais 2.100
pessoas engrossando as taxas de contágio! E quanto aos passageiros vindos de
outras partes do mundo nos outros vôos?
Moral da
história: não há controle de absolutamente nada neste País! Nesse time, não há
zaga. O goleiro, isto é, os profissionais de saúde, que se virem sozinhos!
E queremos
que as taxas de contágio e de mortalidade baixem como num passe de mágica!
Como???
Sem
compromisso? Sem esforço? Sem responsabilidade?
Estamos
entregues à própria sorte. Não há gestão. Não há planejamento. Não existem
estratégias de trabalho. Inexistem coordenações de ações.
Conquanto
o País seja de dimensões continentais as poucas iniciativas que existem são
realizadas isoladamente e de maneira pontual, tomadas por um ou outro
governante.
O caso que
acabei de relatar ilustra muito bem o problema. Há muitas janelas de infecção
que já deveriam estar fechadas há muito tempo, mas que permanecem escancaradas.
É como se alguém tivesse uma ferida no
corpo e continuasse a viver normalmente, sem se preocupar com possíveis focos
de infecção. Algo inadmissível em governos que realmente se preocupam com sua
população.
Na
verdade, a preocupação é outra. Tem gente mais preocupada em proteger a própria
família e alguns correligionários políticos do que qualquer outra coisa. Não.
Não somos prioridade. Representamos apenas um número eleitoral, que comparece
de quatro em quatro anos às urnas para apertar alguns botões e, em seguida,
deixar Zona com um comprovante de votação nas mãos.
Isto é
Brasil.
Alipio Reis Firmo Filho
Conselheiro Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão
NOSSO VÍRUS DE CADA DIA
(*) Texto publicado na minha Coluna Gestão, no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com)
De repente, o uso das máscaras tem se tornado uma "febre" em
todo o Brasil. Em algumas cidades brasileiras, como Fortaleza e Belém, foi
adotado o lockdown. Uma medida extrema que torna mais limitada a circulação das
pessoas.
Tudo isso é muito bom e importante. Todas essas medidas são muito
bem-vindas. Não restam dúvidas que as medidas são acertadas. O problema é que
elas, além de tantas outras, deveriam ter sido adotadas há mais tempo. Eu
diria, há muito mais tempo.
Minha crítica é que as medidas deveriam ter sido parte de nosso cardápio
com a necessária antecedência, isto é, muito antes do início da proliferação do
vírus. Eu arriscaria a dizer que, no mínimo, há, pelo menos, 60 dias atrás.
Exagero? Nenhum.
Antecipação + medidas profiláticas. Eis a equação da vida em tempos de
pandemia.
Demoramos muito! Aliás, continuamos demorando.
Negligenciamos muito! Aliás, continuamos negligenciando.
Aguardamos passivamente o vírus se encorpar. Ficamos na retranca. Acanhados.
Lá atrás. Preferimos contar estrelas.
Enquanto isso, o vírus ganhava vigor. Nutria-se. Energizava-se. Avolumava-se.
Crescia e se proliferava. Ganhava massa muscular. Tornou-se forte o suficiente para
ameaçar nossa própria existência. No momento oportuno ele deu o bote. Como uma
cobra.
Tudo porque não fizemos o dever de casa.
Sentiu-se à vontade. Desceu do avião. Pegou suas bagagens. Circulou
livremente em nossos aeroportos. Passou por nossas alfândegas sem ao menos ser
questionado. Tomou um táxi. Hospedou-se em hotéis. Circulou pelas cidades,
bares e casas noturnas.
Descobriu restaurantes. Visitou padarias e botequins. Passou por nossas
praças e avenidas. Conheceu pontos turísticos. Foi ao cinema e ao teatro.
Compartilhou conosco a mesma condução. O mesmo ônibus. O mesmo metrô. Esteve em
nossos parques e academias.
Começou a fazer parte de nosso quotidiano.
Até chegar em nosso lar...
Entrou pela porta da frente. Sentou-se confortavelmente no sofá da sala.
Assistiu televisão conosco. Silenciosamente. Sem desconfiarmos de nada.
Depois foi à cozinha. Comeu em nossa própria mesa. Abriu a geladeira e pegou
um copo com água.
Ao fim de tudo, despediu-se; deixando atrás de si um rastro de saudade,
dor e sofrimento que só alguns dias depois iria se manifestar.
De fato. Poucos foram os lugares do mundo em que o novo coronavírus tivesse
sido recepcionado tão calorosamente.
O resultado? Não preciso nem
comentar. Todos nós temos a resposta.
Alipio Reis Firmo Filho