(*) Artigo publicado também no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com.br)
Diariamente, o corpo humano se expõe a um número grande de doenças
classificadas como “infectocontagiosas”. São assim conhecidas porque possuem
alto grau de contágio e proliferação. A característica comum desse grupo de
doenças é que todas elas são causadas por quatro tipos de micro-organismos:
vírus, bactérias, protozoários e fungos.
Para proteger o corpo humano contra elas, há dois tipos de barreiras: a
natural, representada pelo sistema imunológico humano; e as artificiais,
representadas pelas drogas e vacinas. Na verdade, as drogas e vacinas ajudam o
sistema imunológico a lutarem contra as doenças infectocontagiosas. As vacinas
aumentam a capacidade de o sistema de matar o agente transmissor. As drogas,
por sua vez, atuam sobre o próprio agente transmissor, impedindo-o de danificar
as estruturas internas do corpo. São duas frentes de combate. Em outras
palavras: enquanto as vacinas impedem que você fique doente; as drogas, embora
não tenham essa capacidade, ajudam o doente a se recuperar mais rapidamente,
alcançando a cura.
Há um grupo de doenças infectocontagiosas que já possuem vacinas.
Sarampo, febre amarela e tuberculose estão entre elas. Se, contudo, alguém vir
a ser infectado por alguma delas, existe uma segunda barreira protetora: as
drogas para o tratamento dos infectados. Além disso, o próprio sistema
imunológico humano ajuda no combate aos vírus, bactérias, fungos e
protozoários.
Portanto, contra esse grupo de doenças o organismo humano possui TRIPLA
PROTEÇÃO: as vacinas, as drogas e o sistema imunológico.
Há, contudo, outro grupo de doenças infectocontagiosas que não possui
ainda vacina para impedir que o organismo adoeça. Aids, Hanseníase, Hepatite C,
Malária e Sífilis ocupam esse grupo. No entanto, a boa notícia é que existem
drogas para combatê-las. A cloroquina, por exemplo, é a droga indicada no
tratamento da malária. Contra a Aids existem 22 tipos de drogas, dentre as
quais Abacavir (ABC), Didanosina (ddI), Lamivudina (3TC), Tenofovir (TDF) e
Zidovudina (AZT). No tratamento da Hepatite C é usado o sofosbuvir, com bons
resultados. Para os indivíduos acometidos de sífiles a penicilina benzatina é
recomendada no tratamento. Também aqui o sistema imunológico atua como uma
segunda e importante barreira natural.
Com efeito, o organismo humano possui DUPLA PROTEÇÃO contra esse grupo
de doenças: as drogas e o sistema imunológico.
Por fim, existe ainda uma terceira família de doenças infectocontagiosas
que não contam com nenhuma droga e/ou vacina para proteger o organismo humano
contra os agentes patológicos. É o caso típico da Covid-19. Em relação a ela
NÃO HÁ DROGA E NEM VACINA. O sistema imunológico humano tem que se virar
sozinho. Ele É A ÚNICA CAPA PROTETORA do
organismo humano.
Por isso o ISOLAMENTO SOCIAL É MUITO IMPORTANE.
A medida atua como uma PROTEÇÃO
ADICIONAL para o organismo, reduzindo as possibilidades de contágio.
Ora, pessoas com sistemas
imunológicos deficientes ou vulneráveis tornam-se, portanto, mais frágeis que
as demais. AQUI NASCE O GRUPO DE RISCO. Os idosos, em primeiro lugar;
juntamente com portadores de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão,
indivíduos submetidos a tratamentos contra o câncer, dentre outros.
Evidentemente que as pessoas que não fazem parte desse grupo também só
dispõe de seus sistemas imunológicos para lutarem contra o vírus. Acontece que
por serem indivíduos mais jovens ou mais saudáveis, suas defesas naturais –
representadas aqui pelos leucócitos – têm mais vigor para combater o vírus
sozinhas, ante à ausência de drogas ou vacinas
para auxiliá-las. No entanto, um sistema imunológico robusto não é
garantia de sucesso. É por isso que muitos indivíduos desse grupo têm vindo a
óbito. Nessa roleta russa, É IMPOSSÍVEL GARANTIR QUE AS DEFESAS NATURAIS DESSES
INDIVÍDUOS SAIAM VITORIOSAS.
Por último, há, ainda, um argumento que muitas pessoas recorrem para
sustentar um possível exagero na preocupação com a Covid-19.
Alguns dizem: “Mas a Tuberculose ou a Hepatice-C matam muito mais do que
o novo coronavírus e ninguém nunca falou nada!”.
Afirmações dessa natureza têm que ser tomadas com reservas.
Como disse, contra o novo Coronarírus o organismo humano só pode contar
com apenas uma camada protetora (o sistema imunológico), diferentemente das
demais doenças infectocontagiosas que contam, algumas delas, com uma tripla
camada; e outras, com duplas camadas protetoras. Aí já reside um grande
diferencial.
Não bastasse isso, há mais dois outros componentes altamente letais
reunidos no novo Coronavírus: o elevadíssimo grau de contágio e a rápido lesão
causada por ele nos pulmões. Em outras palavras: enquanto o vírus da
tuberculose demora a agir dentro do organismo, isto é, demora a produzir lesões
o que, aliás, é um ótimo aliado no tratamento do paciente já haverá tempo para
as autoridades médicas agirem; o novo Coronavírus age muito rápido. Basta
alguns dias para ele produzir estragos profundos no sistema pulmonar humano,
com ramificações para outros órgãos importantes como o coração e os rins.
Quanto às altas taxas de mortalidades das demais patologias
infectocontagiosas, a explicação é relativamente simples.
Nenhuma droga garante que 100% dos pacientes tratados irão ser curados.
O que há é uma PROBABILIDADE MAIOR DE SUCESSO NO TRATAMENTO. Mas certeza não
há. Não há porque a cura também passa pelas condições clínicas de cada
paciente. Alguns indivíduos podem apresentar doenças paralelas que reduzem a
eficácia do tratamento. As condições clínicas, portanto, de cada indivíduo é
que farão a diferença nos tratamentos. E mesmo indivíduos que aparentemente não
apresentem patologias paralelas podem não responder às drogas vindo a óbito.
Isso acontece porque o organismo humano é extremamente complexo. Sua estrutura,
funcionamento e condições gerais variam de pessoa para pessoa.
Por outro lado, muitas pessoas não colaboram com o tratamento. Alguns o
abandonam ou não tomam a medicação como prescrito pelo médico ou, ainda, até
tomam, mas esquecem de tomar algumas vezes.
Todos esses fatores em conjunto explicam a taxa de mortalidade de muitas
patologias, apesar de contarem com drogas potentes na recuperação do paciente.
Ademais, os números são gerados naturalmente
pela lei da probabilidade.
Como disse, não há como assegurar que todos os tratamentos por drogas
será 100% eficaz. Assim como não há como garantir que um paciente submetido a
uma simples cirurgia de vesícula não venha a óbito durante a intervenção
cirúrgica; muito embora apresentasse excelentes condições clínicas.
Grosso modo, isso equivale às perdas nos processos produtivos das
indústrias.
Um alfaiate, ao fabricar uma camisa ou um termo, não aplicará 100% dos
tecidos comprados para sua fabricação. Uma parte do tecido se perderá, naturalmente.
Ela é inerente ao processo produtivo. Guardadas as devidas proporções, o mesmo
acontece no tratamento de um paciente. Não há como garantir que 100% deles
alcançarão a cura por meio das drogas disponíveis. Nesse caso, infelizmente os
óbitos poderão decorrer da própria trajetória do tratamento.
Outro fator importante é o tempo de convívio da humanidade com cada
agente patológico.
O bacilo da tuberculose, por exemplo, foi descoberto em 1882. Lá se vão
cento e poucos anos. O convívio com o novo Coronavírus é muito recente. Tem
pouco mais de 3 meses. Mas com apenas três meses já mostrou a força de seu
veneno.
O que quero dizer é que, quanto mais
tempo de contato tiverem novos humanos com um vírus, tanto mais a probabilidade
de indivíduos morrerem em decorrência dele. Isso dependerá, contudo, da
descoberta de drogas e vacinas eficazes, além, é claro, da pronta
disponibilidade dessas vacinas e drogas às populações.
ALIPIO
REIS FIRMO FILHO
Conselheiro
Substituto – TCE/AM e Doutorando em
Gestão
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