A sereia – ser mitológico, metade peixe, metade mulher – é uma das representações lendárias mais conhecidas em todo o mundo. Diz a lenda que os homens, enfeitiçados por sua beleza, eram conduzidos às profundezas dos oceanos até morrerem afogados.
O conto, na sua
simplicidade e aparente ingenuidade, encerra, contudo, preciosos ensinamentos.
Aliás, muitos bons ensinamentos.
Acredito que uma generosa
fatia da humanidade admite que basta uma leve brisa para arrebatar o carente
coração humano. Há pessoas que dão a vida pela habilitação para dirigir. Para elas,
conduzir um veículo não representa apenas abrir a porta do carro, entrar nele e
dar a partida. Por trás do ato de dirigir há uma brutal sensação de poder que elas
mesmas não conseguem explicar. Dirigir um Boeng 737, então, nem se fala. É como
ser dono do mundo durante algumas horas de vôo.
Outras sonham em dirigir
um país, ocupar um cobiçado cargo no mundo empresarial ou postos estratégicos
no setor governamental. Não importa. Todas são manifestações vivas da vaidade,
expressando desejos enraizados no mais íntimo compartimento do espírito;
repetidas vezes, encerrando segredos guardados a sete chaves.
Eis o fiel retrato da
natureza humana. Eterna refém dos holofotes. Sedenta por notoriedades. Ávida por aclamações. Subserviente ao extremo
aos caprichos da alma.
Não é difícil domestica-la.
Basta um punhado de elogios e alguns afagos. Não precisa mais que isso. É o
preço ignóbil do que aparenta ser forte, poderoso e imponente. No fundo, não
passa de uma bagatela.
Nessa seara, esquecem
quase por completo dos motivos que as conduziram até ali. Das
responsabilidades que tem. Das tarefas a realizar e dos problemas por
resolver. Preocupam-se menos com os
outros e mais consigo mesmas.
É o canto da sereia traduzido
para a modernidade. Inebriante. Envolvente. Sedutor. Confortável. Deslumbrante.
Acolhedor. Tudo que um espírito carente deseja. O encaixe seria perfeito, se não
houvesse um oceano profundo, escuro e sem perspectivas de navegabilidade pela
frente cujos frutos, não raras vezes, são sinônimos de dor e sofrimento.
Para nossa reflexão.
Alipio
Reis Firmo Filho
Conselheiro
Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão
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