Há um dito popular que
diz: “Deus é brasileiro”. Acredito que boa parte dos brasileiros já o tenham
ouvido. Eu mesmo o ouvi pela primeira vez já na minha infância. Acho que
deveria contar menos de dez anos de idade.
Refletindo melhor sobre
seu conteúdo, acredito que, no fundo, ele faz sentido sim. Se pararmos para pensar
um pouquinho sobre nossas potencialidades, não há como pensarmos diferente. O
Brasil – sem puxar lenha pra nossa sardinha – é um país diferente. E não estou
me referindo às diferenças negativas, aquelas que todos os dias estamos
acostumados a ouvir no rádio ou ver na televisão. Estou me referindo ao que
temos, ao que somos, à tudo aquilo que já trouxemos do berço. Àquilo que
ninguém nos deu (é óbvio que, aqui, entra a mão do Criador). Vamos refletir um
pouquinho?
Comecemos com nossas
reservas minerais. Elas são um bom exemplo disso. Vejamos alguns números
somente para servirem de ilustração.
Temos a terceira maior
reserva do mundo em potássio, alumínio, bauxita, níquel e estanho. A quinta
maior reserva de ferro e manganês sendo que a reserva de ferro é representada
por 17 bilhões de toneladas.
Em relação ao petróleo o
Brasil responde hoje pela 15ª posição no quadro das reservas mundiais. Todavia,
estima-se que com a exploração da camada pré-sal (se convenientemente
explorado) saltaríamos para a 6ª posição das reservas no mundo. Muito
provavelmente, passaríamos a compor a
OPEP (Organização dos Países Exportadores
de Petróleo).
Não temos problemas no
Brasil com catástrofes naturais como tufões, furacões, nevadas, terremotos. O
solo brasileiro é todo aproveitável. Acredito que não exista no mundo um país
que equipare nossa dimensão continental em termos de potencialidade de
produção. As restrições que possuímos são perfeitamente solucionáveis com
tecnologia. E acredite: temos essa tecnologia. Há casos de sucesso na produção
de frutas típicas do clima temperado no nordeste brasileiro, como a produção de
uvas. Os EUA e Israel, além de outros países espalhados pelo mundo, conseguem
aproveitar grandes áreas desérticas que de longe apresentam maiores dificuldades
de produção, se comparadas com as do semi-árido nordestino. Não sou
especialista no tema, mas acredito que o solo nordestino, se bem trabalhado e
aproveitado, poderia alimentar não apenas o País, mas o mundo.
O Brasil tem uma
potencialidade turística enorme. Há aqui ambientes e locais para todos os
gostos e preferências. Não há pais no mundo que conte com um litoral tão extenso
em beleza e em dimensão quanto o nosso. A Amazônia é uma imensa região capaz
de, sozinha, alavancar enormes divisas para o País. Isso tudo sem falar no
potencial turístico das demais regiões, como o Centro-Oeste brasileiro que
guarda uma jóia inestimável: o pantanal mato-grossense. O Nordeste dispensa
comentários. Tem tudo e muito mais.
Além de todos esses (e
tantos outros) atributos naturais é inegável que o brasileiro é um povo muito
talentoso, criativo e extremamente inteligente. Todavia, carregamos conosco uma
cultura de nos depreciarmos, de nos colocarmos como um povo inferior aos
demais, sem qualidades, que somente gosta de carnaval, samba e futebol. Não sei
bem o motivo disso, mas esse enredo é muito parecido com uma criança que não
gosta de estudar. Tira notas baixas na escola e vive brincando. O conceito da
família em relação a ela é que não terá futuro, não “será gente quando crescer”
e por aí vai. “Tá na cara que não dará certo”, diriam alguns.
Poucos sabem, entretanto,
que os gostos e as preferências nem sempre traduzem a capacidade intelectual de
alguém. Um bom exemplo disso é Albert Einstein, talvez, o cientista mais
conhecido do mundo. Na infância, ele tinha sérios problemas de comportamento.
Ele não suportava pessoas autoritárias, era temperamental e por força disso tinha
péssimas atitudes. Conta-se que aos cinco anos de idade ele jogou uma cadeira
em seu tutor – que lhe dava aulas particulares – porque estava de mau humor.
Quando estudou na escola de gramática de Luitpold, de onde saiu em 1894 sem um
diploma, pois não conseguia conviver com a disciplina autoritária da escola,
sua professora lhe disse certa vez: “você não chegará a lugar nenhum”. Não
precisa dizer mais nada. A História conta uma versão completamente diferente de
Albert Einstein.
E o que demonstraria mais
cabalmente a criatividade e a potencialidade do povo brasileiro? Muito simples.
Basta passarmos em revista a nossa própria História e distinguirmos notáveis
brasileiros. Verdadeiras pérolas que nós, de pé, aplaudimos, talvez, sem nos
darmos conta. O esporte é um bom exemplo disso.
No futebol não precisamos
falar muito. É, de longe, o maior exportador de talentos do mundo. Foram muitos.
Certa vez li um comentário de um jogador boliviano que, segundo ele, no Brasil
os jogadores talentosos eram tantos que pareciam “nascer da terra”. A
genialidade de um Pelé e de um Garrincha dispensam comentários. E elegância na
maneira de jogar de um Falcão (refiro-me ao jogador dos gramados e não das
quadras) acabou sendo sua marca quando defendeu o Roma nos idos dos anos
oitenta. Poucos no mundo tiveram a capacidade de domínio de bola e a percepção
de jogo de um Zico. Isso tudo sem falar em tantos outros talentos mais recentes
(Ronaldo, Ronaldinho, Romário, etc.). Mais recentemente, o Neymar. Mas temos
inúmeros outros talentos em outras modalidades esportivas: Robert Scheidt,
Torben e Lars Grael (vela), Diego Hypólito, Arthur Mariano, Aarthur Zanetti, dentre
outros (ginástica), Thiago Braz, Fabiana Murer, Maurren Maggi, dentre tantos
outros (atletismo), Aurélio Miguel, Tiago Camilo, dentre outros (Judô), Robson
Conceição, Eder Jofre (boxe), Nelson Piquet, Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi
(Fórmula 1), Cesar Cielo, Gustavo Borges, Fernando Scherer, dentre outros
(natação), Fernando Pessoa (hipismo), Isaquias Queiroz (canoagem), Gustavo
Kuerten, Fernando Meligeni (tênis), Anderson Silva e tantos outros (MMA), vôlei
masculino e feminino (que tem um histórico de vitórias no voleibol mundial
impressionante), futebol de salão (Falcão, Manoel Tobias, dentre outros);
enfim, poderíamos relacionar inúmeras outras modalidades esportivas em que o
esporte brasileiro mostrou talento e competência, mas acho desnecessário.
Agora, um dado importante. Se não bastasse termos gente competente nas mais
diversas modalidades esportivas, parece que estamos, em muitas delas, à frente
das potências mundiais. Enquanto as medalhas olímpicas são obtidas lá fora em
troca de maciços investimentos, nossas medalhas foram fruto de puro talento,
disciplina e dedicação pessoal de nossos atletas. Todos sabem que pouco ou
quase nada investimos no esporte. Um exemplo disso é o pessoal da ginástica.
Não recebem o apoio necessário, mas conseguem apresentar desempenhos
fantásticos. O mesmo acontece com o pessoal do atletismo. A dedicação e o
empenho pessoal são a mola propulsora de muitos bons resultados. E se
investíssemos mais em nossos talentos? Onde chegaríamos? Pois é. Difícil
responder, mas diante de todo esse contexto é possível dar asas à imaginação.
O que dizer dos
cientistas brasileiros? Pessoas notáveis conhecidas e respeitadas no mundo
inteiro. Podemos citar alguns como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Calos Motta,
dentre outros (arquitetura e urbanismo), Ivo Pitanguy (cirurgião plástico), Alex Atala
(gastronomia), Alex Kipman, Eduardo Saverin, Hugo Barra, dentre outros
(processamento de dados), Carlos Ghosn (executivo do segmento automobilístico),
Carlos Saldanha, Fernando Meirelles (cinema), Gisele Bündchen, Daniella Helayel
(passarela e estilista), Humberto e Fernando Campana (designer), Marcello Serpa
(publicidade), etc...
Isso tudo sem falarmos em
ramos da Ciência em que o Brasil é destaque no cenário internacional como a oftalmologia,
o processamento de dados, a medicina e tantos outros importantes ramos da Ciência. Pouca gente sabe mas o Brasil
participou do projeto que mapeou o genoma humano. Nesse projeto participaram
países como os EUA, a Alemanha, o Canadá, a Suécia, o Japão, a Dinamarca, isto
é, países que estão na ponta do desenvolvimento mundial.
Por fim, não poderíamos
deixar de citar a festa de abertura das olimpíadas de 2016, realizada no
Brasil. Não há quem tenha assistido à celebração que não tenha se encantado.
Fala-se (imprensa internacional inclusa) que muito provavelmente tenha sido a
abertura mais bonita da História das olimpíadas. É o talento do povo brasileiro
cantado em verso e prosa à maneira tupiniquim que não deixa nada a dever a
nenhuma nação do globo.
Então? O que nos falta?
Temos tudo. Não nos falta nada. Deus parece ser realmente brasileiro. Quando
iremos despertar? Não sabemos. Enquanto uns poucos buscarem seus próprios
interesses morreremos de fome diante de uma mesa farta.
* Publicado na minha coluna GESTÃO (Fato Amazônico). Clique AQUI PARA ACESSAR A COLUNA
ALIPIO
REIS FIRMO FILHO
Conselheiro
Substituto – TCE/AM