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domingo, 24 de maio de 2020

NOSSO VÍRUS DE CADA DIA

(*) Texto publicado na minha Coluna Gestão, no Fato Amazônico (www.fatoamazonico.com)

De repente, o uso das máscaras tem se tornado uma "febre" em todo o Brasil. Em algumas cidades brasileiras, como Fortaleza e Belém, foi adotado o lockdown. Uma medida extrema que torna mais limitada a circulação das pessoas.

Tudo isso é muito bom e importante. Todas essas medidas são muito bem-vindas. Não restam dúvidas que as medidas são acertadas. O problema é que elas, além de tantas outras, deveriam ter sido adotadas há mais tempo. Eu diria, há muito mais tempo. 

Minha crítica é que as medidas deveriam ter sido parte de nosso cardápio com a necessária antecedência, isto é, muito antes do início da proliferação do vírus. Eu arriscaria a dizer que, no mínimo, há, pelo menos, 60 dias atrás. Exagero? Nenhum.

Antecipação + medidas profiláticas. Eis a equação da vida em tempos de pandemia.

Demoramos muito! Aliás, continuamos demorando.

Negligenciamos muito! Aliás, continuamos negligenciando.

Aguardamos passivamente o vírus se encorpar. Ficamos na retranca. Acanhados. Lá atrás. Preferimos contar estrelas.

Enquanto isso, o vírus ganhava vigor. Nutria-se. Energizava-se. Avolumava-se. Crescia e se proliferava. Ganhava massa muscular. Tornou-se forte o suficiente para ameaçar nossa própria existência. No momento oportuno ele deu o bote. Como uma cobra.

Tudo porque não fizemos o dever de casa.

Sentiu-se à vontade. Desceu do avião. Pegou suas bagagens. Circulou livremente em nossos aeroportos. Passou por nossas alfândegas sem ao menos ser questionado. Tomou um táxi. Hospedou-se em hotéis. Circulou pelas cidades, bares e casas noturnas.

Descobriu restaurantes. Visitou padarias e botequins. Passou por nossas praças e avenidas. Conheceu pontos turísticos. Foi ao cinema e ao teatro. Compartilhou conosco a mesma condução. O mesmo ônibus. O mesmo metrô. Esteve em nossos parques e academias.

Começou a fazer parte de nosso quotidiano.

Até chegar em nosso lar...

Entrou pela porta da frente. Sentou-se confortavelmente no sofá da sala. Assistiu televisão conosco. Silenciosamente. Sem desconfiarmos de nada.

Depois foi à cozinha. Comeu em nossa própria mesa. Abriu a geladeira e pegou um copo com água.

Ao fim de tudo, despediu-se; deixando atrás de si um rastro de saudade, dor e sofrimento que só alguns dias depois iria se manifestar.   

De fato. Poucos foram os lugares do mundo em que o novo coronavírus tivesse sido  recepcionado tão calorosamente.

O resultado? Não preciso nem comentar. Todos nós temos a resposta.

  

Alipio Reis Firmo Filho

 Conselheiro Substituto – TCE/AM e Doutorando em Gestão.

 


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